sábado, abril 30, 2005
Desordenamento do segundo ciclo
Há uns quantos dias, senão semanas, que andava para escrever acerca da necessidade que as Universidades têm de pós-graduações e mestrados e as consequências que daí poderão advir. Darei um exemplo concreto para justificar a minha posterior opinião.
Na última sessão de Senado da Universidade de Évora, foram apreciados, discutidos e votados 6 (seis) propostas de pós-graduações e/ou mestrados para as mais diferentes áreas. Esta semana deu-se mais uma reunião da Comissão especializada do Senado para nos debruçarmos sobre mais uma proposta, desta feita, do departamento de pedagogia.
É notável o esforço que tem sido equacionado por parte da classe docente, e que eu desde já felicito - desde que esse esforço adicional não condicione a sua disponibilidade e empenho para com as licenciaturas - no sentido de encontrar receitas extraordinárias que lhes permitam fazer face ao insuficiente orçamento de estado. É também de enaltecer a pertinência e interesse inerentes às propostas apresentadas que demonstram espírito inovador, educativo, mas simultaneamente ligado às realidades do nosso quotidiano.
No entanto há algo nesta velocidade de apresentação de propostas que me preocupa.
Estaremos perante mais uma fase de desordenamento desenfreado do Ensino Superior, onde para se ultrapassarem problemas financeiros, se constróiem "segundos ciclos" que hipotecarão as gerações seguintes? É que nesta corrida, temo que se acabem por perder os conteúdos dos mestrados ou pós-graduações. Temo que se esvazie a pertinência, a mais valia, de seguir mais um passo na escada do saber. Temo que se perca, em detrimento da balança orçamental das instituições, a adequabilidade destes cursos ao mercado e o interesse dos licenciados em ingressarem neles. Temo por saber que já anteriormente se mataram várias galinhas dos ovos de ouro!
Mas ainda assim valorizo a prestação e as propostas dos docentes, pedindo somente que se mantenham alerta...
No entanto e com as "novidades" de Mariano Gago mais dúvidas se levantam.
Porque se baixarem as propinas de mestrados e pós graduações e mantiverem as dotações do orçamento de estado para os estabelecimentos, então alguém terá de ceder e só espero que não sejam as propinas do 1º ciclo! Sem me querer estender mais, digo apenas que quero esperar para ver, até para entender como irão ficar organizados os dois ciclos -fala-se numa possibilidade de existir também um regime misto- e o seu financiamento.